Memórias Literárias – Interpretação 7º/8º ano – Da escuridão para o colorido –

Texto retirado da
publicação dos finalistas de Memórias Literárias – Olimpíada da Língua Portuguesa
2010. Usei-o como exemplo de um texto interessante e bem construído a partir de
entrevistas e para trabalhar algumas questões de interpretação com meus alunos (estão logo abaixo do texto),
geralmente eles confundem muito o discurso em 1ª e 3ª pessoa, autor e narrador,
entre outras coisas.
Da
escuridão para o colorido

Aluna:Évelin Cristina Nascimento da Silva
           Tristeza! É o que sinto quando abro
meus olhos e vejo a mais terrível escuridão, que não cessa. O único remédio é
fechá-los e deixar-me levar pelas lembranças.
          Lembro-me como se fosse ontem: bem
cedinho, o sol não havia nem acordado ainda, eu já estava na estrada da minha
cidade Santa Branca que nem asfaltada era, pura terra,
com uma brochura e alguns lápis dentro de uma sacolinha de arroz – pois nossa
vida era difícil e papai só ganhava o suficiente para não morrermos de fome e
frio. Enquanto caminhava, a poeira batia em meus olhos e os fazia ficar cheios
d’água.
         
Eu ia cantarolando que nem um sabiá
até chegar à escola Barão de Santa Branca,
hoje bem conhecida na cidade e antigamente a única. Recordo-me de que lá havia
um muro para meninos e meninas não ficarem misturados. Bobagem! Ai de nós se
tentássemos olhar para elas… A régua cantava na palma de nossas mãos, parecia
que os professores sentiam prazer em fazer isso, eram rígidos demais.
         Assim que saíamos da escola, eu
e meus amigos íamos nadar atrás da fábrica de trigo, que hoje não existe mais –
nem a fábrica, nem as águas limpas. Depois íamos jogar bola atrás do mercado
municipal, onde hoje é o posto de saúde. Ficávamos parecendo tatus, a terra
grudava nas roupas e na pele molhada. Depois disso dávamos mais um pulo na
cachoeira, pois se chegássemos assim em casa a vara de amora era o presente
para nossas pernas.
          O mais engraçado era ver d. Dolores
dirigindo. Se surgia uma nuvem de poeira, podíamos ter a certeza de que era ela
com seu Chevrolet. Afinal, era a única mulher de Santa Branca que dirigia.
          Não posso me esquecer dos
cortejos: a cidade inteira seguindo um caixão, sem saberquem estava dentro.
Havia uma banda que tocava para o defunto e ele tinha direito até a foto. Dá
para acreditar nisso? Mamãe me dizia para não dar risadas nem ir ver o rosto do
morto, principalmente se fosse gente ruim, senão ele poderia voltar para
assombrar. O sino da delegacia tocava pontualmente às 21 horas para todos se
recolherem, era uma época bem
perigosa. De noite a cidade era iluminada por lampião de querosene – isso a
deixava mais sombria.
          Foi minha melhor época, mas
hoje sou velho, e a cegueira tomou conta dos meus olhos.
          Tenho saudade do colorido que
hoje só vejo em minha mente através das lembranças do passado.   Escuridão é o que eu vejo, mas jamais sairá
de mim a magia de recordar.

(Texto baseado na entrevista feita com o sr. Sarkis Ramos Alwan, 41 anos.) 


Após ler
o texto com atenção, responda:
  
1. O texto está narrado em qual pessoa do discurso?
2. A autoria é da
mesma pessoa sobre a qual se conta a história? Justifique.
3. Este texto
pertence ao gênero:
(    ) biografia          (   
) autobiografia   (    ) entrevista     (    ) memórias literárias
4. O texto foi construído
a partir de coleta de dados. Qual foi o recurso usado para isso?
5.De que fase da vida
o narrador se lembra no texto? 

7.Na infância do narrador, há mais momentos felizes ou tristes? Retire do texto
um episódio que justifique sua resposta.
8.Qual a importância
das lembranças para este entrevistado em especial? 

9.Qual detalhe mais
lhe chamou a atenção sobre o que foi contado? 

10. Justifique o
título do texto.

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