Interpretação 7º/8ºano Se não me falha a memória (crônica)

Atividade adaptada do Saresp 2005

CRÔNICA
Se não me falha a
memória
Memória boa tinha
aquele velho. Correu os olhos pelo cartório onde eu era escrivão e veio direto à
minha mesa:
– Sr. Escrivão, meus
respeitos – fez um salamaleque: – Queria que o senhor me desse informações sobre
um inventário.
– Às suas ordens – e
retribuí o cumprimento: – Inventário de quem?
– Já lhe digo o nome
do falecido. Minha memória ainda é das melhores – apesar de ter sofrido uma comoção
cerebral há poucos dias, ainda não estou inteiramente bom. Espera aí, deixa eu
ver… Sou advogado há mais de quarenta anos, não esqueço o nome de um
constituinte, vivo ou morto. Hoje em dia… Benvindo!
– Como?
– O nome do falecido
era Benvindo. Isto! Benvindo Lopes. Marido da minha cozinheira. Faleceu há pouco
tempo. Ela já não está boa da cabeça e se eu não me lembrasse o nome do marido
dela, quem é que haveria de lembrar? Levindo Lopes.
– O senhor disse
Benvindo. – Eu disse Benvindo? Veja o senhor!
– É Levindo ou
Benvindo?
Ele ficou pensativo
um instante:
– Benvindo seja –
respondeu afinal, muito sério.
Depois de verificar
no fichário, expliquei-lhe que deveria trazer uma petição. O velho agradeceu e saiu,
assegurando-me que sim, não esqueceria. Nem dez minutos haviam decorrido e
tornou a surgir na porta:

– Sr. Escrivão, já
que o senhor ainda há pouco foi tão amável, e sem querer abusar, posso lhe
pedir uma informação? É sobre um inventário, esqueci de lhe dizer. Minha
memória é muito boa, mas sofri há dias uma comoção cerebral…

– O senhor me disse –
sorri-lhe, solícito: – Qual é o inventário, desta vez?
– Inventário de…
de… Não vê o senhor? A minha cozinheira… O marido dela.
– Benvindo Lopes?
– Isso! Benvindo
Lopes. Como é que o senhor sabe?
– O senhor já me
tinha dito.
– Mas sim senhor!
Vejo que também tem boa memória.
Tornei a explicar-lhe
a mesma coisa, isto é, que deveria trazer uma petição. Não esquecesse.
– Não, não me
esqueço.
Agradeceu e se
afastou. Deteve-se a meio caminho da porta.
– Veja o senhor! Já
ia me esquecendo é do motivo principal que me trouxe aqui: a minha cozinheira,
que está mais velha do que eu, perdeu o marido há pouco tempo e estou cuidando
do inventário dele…
– Sabe o nome do
falecido? – perguntei, sem me alterar.
– Como não? Minha
memória ainda funciona, para nomes então, principalmente. Ora, pois. É Levindo
não sei o quê…
– Não será Benvindo?
– Isso! Benvindo…
Benvindo Lopes, se não me engano.
– Este nome não me é
estranho – limitei-me a murmurar.

(Sabino, Fernando. In Para gostar de ler. Ed. Ática)
Após ler o texto,
responda:

1.O texto está narrado em 1ª ou 3ª pessoa?
Justifique sua resposta transcrevendo um trecho do texto.
2.A atitude irônica do narrador ao se referir
ao homem que entra no cartório revela-se no seguinte trecho:
(   ) “Ele
ficou pensativo um instante.”        
(   ) “Memória boa tinha aquele velho.”
(   ) “ Tornei-lhe a explicar a mesma coisa.”
(   ) “”Perguntei, sem me alterar.”
3. Por que o homem procurou o cartório?
4. A que o homem atribuiu sua falta de
memória?
5. As reticências que aparecem na fala do
homem sugerem que ele era:
 (  )
confuso
            (   )
esquecido
      (   ) gago    (   
) indeciso
6. A fala final do narrador sugere que ele:
(    )
conformou-se com a situação.
(    )
esqueceu o nome do homem.
(    ) lembrou-se do inventário.
(    )
perdeu o fichário..
7. O tema central dessa crônica é
(    )
dificuldade de comunicação entre as pessoas.
(    )
o inventário de Benvindo Lopes.
(   
)  a inconveniência da perda de
memória.
(   )
as doenças mentais.

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