O homem nu – Interpretação e produção textual 8º ano


A atividade será dividida em etapas: leitura, interpretação, produção de
texto. Essa crônica é divertida e os alunos gostam e produzem finais interessantes. Veja a postagem completa com as sugestões de atividades.
1ª parte – Leitura compartilhada
O HOMEM
NU
         
Ao acordar, disse para a mulher:
         
– Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o
sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro
da cidade, estou a nenhum.
 
          – Explique isso ao homem – ponderou a
mulher.
         
– Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente
as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro,
não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até 
cansar – amanhã eu pago.
 
     Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao
banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto
esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de
serviço para apanhar o pão. Como estivesse completamente nu, olhou com cautela
para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até ao
embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito
cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a
porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.

 

         
Aterrorizado, precipitou-se até à campainha e, depois de tocá-la, ficou à
espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do
chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher
pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nós dos dedos:
       
  – Maria! Abre aí, Maria. Sou eu – chamou em voz baixa.
         
Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.
 
     Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador
fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares… Desta vez, era o homem
da televisão!
         
Não era. Refugiado no lance da escada entre os andares, esperou que o elevador
passasse, e voltou para a porta do seu apartamento, sempre a segurar nas mãos
nervosas o embrulho de pão:
       
  – Maria, por favor! Sou eu!
 
       Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos
na escada, lentos, regulares, vindo lá de baixo… Tomado de pânico, olhou ao
redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar
um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e
ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo
de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida
de um lance de escada. Ele respirou, aliviado, enxugando o suor da testa com o
embrulho do pão. Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa
a descer.
       
  – Ah, isso é que não! – fez o homem nu, sobressaltado.
         
E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em
pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido… Percebeu, desorientado, que
estava sendo levado cada vez mais longe de seu apartamento, começava a viver um
verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e
desvairado Regime do Terror!
 
        – Isso é que não! – repetiu, furioso.
 
      Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre
os andares, obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a
momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu
andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador. Antes de mais nada:
“Emergência: parar”. Muito bem. E agora? Iria subir ou descer?
(vamos
parar o texto aqui para fazer as atividades 1, 2 e 3)
Atividade
1
Após a leitura da 1ª parte da
crônica, vamos interpretar (por escrito ou oralmente, como o professor achar
mais interessante, o objetivo é ver se a turma está atenta)
  1. A
    narrativa desta crônica está em 1ª ou 3ª pessoa?
  2. Por
    que o casal não poderia abrir a porta do apartamento?
  3. O
    homem saiu do apartamento com qual objetivo e como ele estava?
  4. O
    que aconteceu quando o homem nu saiu para pegar o embrulho de pão?
  5. Qual
    o efeito cômico que o autor explora nesta situação corriqueira?
  6. Por
    que a mulher  não veio abrir a porta
    para o marido?
  7. O
    autor utiliza a descrição de sons durante a narrativa. Selecione dois
    trechos em que o som é importante para a história.
  8. Em
    alguns momentos, surgem perguntas como: “E agora? Iria subir ou descer?”.
    O que essas perguntas retratam na narrativa?
      9.O
texto apresenta falas e diálogos curtos. Que efeito eles dão à narrativa?
Atividade
2
Em
duplas, vamos criar um final para a crônica:
Considere
os tempos verbais da primeira parte. O trecho deve ser curto, mas coerente com
a parte lida. Use a imaginação, como o homem sairia  dessa situação? Procure fazer um final bem
interessante, pode ser engraçado ou trágico.
Atividade
3
Compartilhar
os finais criados pelos alunos. Qual foi o mais interessante? Qual eles mais
gostaram?
Atividade
4
Leitura da
2ª parte (final da crônica):
         
Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia
em fazer o elevador subir. O elevador subiu.
          – Maria! Abre
esta porta! – gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhum cautela.
         
Ouviu que outra porta se abria atrás de si. Voltou-se, acuado, apoiando o
traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era
a velha do apartamento vizinho.
          – Bom dia, minha
senhora – disse ele, confuso. – Imagine que eu…
         
A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:
 
        – Valha-me Deus! O padeiro está nu!
         
E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:
 
        – Tem um homem pelado aqui na porta!
         
Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:
          – É um tarado!
          – Olha, que
horror!
          – Não olha não!
Já pra dentro, minha filha!
         
Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele
entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do
banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.
          – Deve ser a
polícia – disse ele, ainda ofegante, indo abrir.
         
Não era: era o cobrador da televisão.
(FERNANDO SABINO. In: Para
Gostar de Ler. Vol. 3
Crônicas. Editora Ática, São Paulo, 1996)
Sobre o
autor:
Fernando Sabino de, que nasceu em Belo Horizonte no ano de  1923 e morreu em 2004.
Foi
locutor de rádio, colaborou com artigos, crônicas e contos em revistas,
conquistando muito prêmios.
O romance
O encontro marcado, de 1956, foi
o grande impulso para sua carreira literária. Depois disso, Sabino resolveu
viver exclusivamente como escritor e jornalista.
Para
encerrar atividade:
Quais
foram as semelhanças e as diferenças entre os finais criados pelos alunos e o
final do autor?

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